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O silêncio do suicídio

por Aline Rodrigues

Você já pensou em pôr fim à sua vida? Pode soar de forma agressiva, mas se trata de uma pergunta que tem rondado os pensamentos dos brasileiros mais do que imaginamos.

Outra questão é: Você conhece alguma pessoa que suicidou? Acredita que essa pessoa efetivamente suicidou ou que foi um acidente ou morte natural?

A sinceridade em assumir esta realidade é extremamente importante. Porque, a negação deste comportamento é um dos grandes fantasmas que potencializam seu aumento.

Como iremos tratar algo que não consideramos existente? E assim, negando sua existência, mais e mais pessoas colocam fim em suas vidas por não conseguirem mais suportar ou lhes dar sentido.

Dados estatísticos revelam que, anualmente, 800 mil pessoas suicidam no mundo. Sua maior incidência acontece na faixa etária de 15 a 29 anos. E, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o Brasil apresenta um registro de 12 mil mortes por ano. Um dado assustador.

Diante deste cenário, podemos abrir inúmeras discussões. Atenho-me apenas a uma reflexão: todos que atentam contra a própria vida o fazem por estar vivendo um quadro de doença psíquica? Afinal, este é o discurso que ouvimos a todo instante. De fato, isso precisa ser questionado, visto que a dimensão psicológica não é a única que norteia o ser humano.

É válido ressaltar que somos um ser biológico, psicológico, social e espiritual. Que dentro da dimensão biológica, pode se notar alterações neuroquímicas e hormonais que estão relacionadas diretamente ao quadro de humor da pessoa, um dos fatores que implicam no comportamento suicida.

Outra dimensão é a psicológica. Claro que esta é a que mais atinge esse público, inegavelmente. O aumento de doenças psíquicas como depressão, ansiedade e tantas outras patologias, tem gerado o que chamamos de “adoecimento coletivo”. Atrelado a essas patologias, podemos notar que o ser humano tem ficado perdido quanto à sua identidade.

Muitas vezes, não reconhece o seu lugar, valor e missão no mundo. O que gera confusão e sensação de falta de sentido. Não entro aqui na discussão de casar ou não, ter filhos ou não, trabalhar ou não. Falo das frustrações e decepções vividas, do sentimento de abandono e desamparo sofrido. De olhar para si e não reconhecer nenhum sentido na própria vida.

Uma outra dimensão que potencializa esse sofrimento humano é a social. A sociedade tem violentado o ser humano, pois ele não consegue freá-la, nem dar respostas saudáveis. Vive no automático, respondendo a uma cultura de massa, que tira toda a sua individualidade. Exigindo, muitas vezes, um comportamento e uma forma de pensar muito diferente do que é dele. E uma vez que não consegue encontrar o seu lugar nesta sociedade, perde o sentido da vida. Essa dimensão é como um gatilho no revólver que é a nossa estrutura psíquica.

Essas dimensões humanas são como os pés de uma mesa: se uma está doente, é como se o pé quebrasse. Um pé da mesa quebrado, o que acontece? A mesa fica “manca”. Esteja atento, reconheça essas dimensões nos integrantes de sua casa, olhe para a dor do outro que está perto O suicídio é real, fruto de uma realidade doentia de alguma das dimensões da nossa vida.

Temos uma geração fraca, que não sabe lidar com as frustrações, decepções e os NÃOS que são próprios da vida. Aprenda a dizer não! Auxilie seus filhos a lidarem com as decepções e frustrações. Mostre às pessoas que você ama que é possível achar o equilíbrio, enfrentar e superar o problema que tem gerado essa dor momentânea.

*Aline Rodrigues é psicóloga, especialista em saúde mental, e missionária da Comunidade Canção Nova. Atua com Terapia Cognitiva Comportamental; no campo acadêmico, clínico e empresarial.

Carta-testamento de Getúlio Vargas. 1954, parece que foi ontem.

Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fi z-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja independente. Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

NR: Qualquer semelhança com os dias atuais não terá sido mera coincidência.