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Crônica de um quase carnaval

Texto e foto de Valéria del Cueto

Demorou a hora de falar do carnaval. Foram tantos os percalços nessa temporada que o ano passou enquanto esperávamos no que iam dar.

Teve virada e desvirada de mesa na Liga da Escolas de Samba, a Liesa. Jorge Castanheira, seu presidente, quase foi e voltou. A Imperatriz Leopoldinense, rebaixada em 2019, fez o que podia para ficar no Grupo Especial, mas a manobra foi mal sucedida. Desceu pro Acesso e trouxe para desenvolver seu enredo reprisado “Só dá Lalá”, o carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira. Há males que vem pra bem. O realinhamento pode ser uma excelente oportunidade para a escola de Ramos.

Enquanto isso, as escolas aguardavam as decisões das esferas governamentais. Do mato da Prefeitura do Rio de Janeiro, sob o comando de Marcelo Crivella, já se imaginava que pouco ou nada surgiria.

Houve, inclusive, uma tentativa de entregar o Sambódromo para o Estado. O governador Wilson Witzel ficou animado. Mas na véspera da assinatura do convênio, dia 8 de novembro de 2019, a Procuradoria Geral do Município desaconselhou a iniciativa. Alegando que a transferência poderia ser contestada na justiça, já que feita sem a consulta ou o aval do legislativo municipal, cancelaram a cerimônia que aconteceria no Sambódromo.

Atentem para o fato que já era novembro e nada do comprometido no Termo de Ajuste de Conduta. O TAC, firmado entre o MP, a Prefeitura e a Liesa para a realização do desfile de 2019, incluía uma série de obras estruturais na Passarela do Samba. A urgência era maior já que os cuidados com a conservação deixam a desejar desde a última reforma, em 2012.

As obras foram, finalmente, anunciadas dia 13 de novembro. Um mês depois o Ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio e o deputado Flávio Bolsonaro tiravam fotos na Apoteose anunciando os repasses.

Na virada do ano, a prefeitura anunciou a abertura de “50 dias de carnaval” com o Bloco da Favorita, em Copacabana. Pegos de surpresa, agentes públicos de segurança, saúde e limpeza avisaram que não tinham contingente para atender um mega evento em cima do laço. Entre o libera, não libera, a Justiça decidiu que o bloco gigante não poderia se locomover, apenas se apresentar no palco. As cenas lamentáveis do final da festa, com enfrentamento entre polícia e ambulantes e foliões, percorreram o mundo.

A previsão informada na mesma coletiva da Riotur de que o Sambódromo seria entregue no dia 30 de janeiro já era, por si só, uma indicação da falta de planejamento do poder público. Em anos anteriores os ensaios chegaram a começar logo depois do dia Nacional do Samba, 5 de dezembro. Como buscar patrocinadores sem a garantia da entrega do espaço? A Liesa bem que tentou.

Mas podia piorar? Sim. Retardando a entrega da verba para as escolas da Intendente Magalhães (em setembro anunciou que iria triplicar o valor, passando para R$3 milhões). Crivella só efetivou o pagamento dia 13 de fevereiro.

Junto com o atraso das obras do sambódromo houve uma inversão dos gastos com as Escolas de Samba. As dos grupos que desfilam na Sapucaí não receberam subvenção da prefeitura. Essas agremiações vendiam seus ingressos, as da Intendente não. Ruim para o Grupo Especial, com mais viabilidade de patrocínios e venda de transmissão, péssimo para o Acesso com muito menos visibilidade.

Sem ensaios técnicos, com São Paulo dando banho na organização da festa, o final de semana que antecede o carnaval foi esperado com ansiedade pelos sambistas cariocas. O dia do ritual de lavagem da pista e o ensaio da escola campeã, no teste de luz e de som da Sapucaí é de lei. Necessário para “afinar” a estrutura da passarela. Pois acredite, na sexta-feira ainda não havia confirmação da liberação da Sapucaí. A Riotur informou na véspera: “Na madrugada deste sábado, 15 de fevereiro, o Sambódromo foi liberado para a realização do evento de teste de luz e som com a campeã do Carnaval de 2019 e a tradicional lavagem da Marquês de Sapucaí para domingo”. E choveu a cântaros na hora da lavagem.

Em tempo: o prefeito Marcelo Crivella avisou que “por não saber sambar” não comparecerá aos desfiles.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É carnaval”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com

No carnaval do Rio não há crise… de alegria.

Texto e foto de Valéria del Cueto

Não adianta chororô, nem mimimi. Pode ter crise econômica, protesto do “agro” e mudanças no regulamento. É do jogo. Nada atrapalhará a maior festa popular do mundo. A única coisa que não pode ser prevista nem contornada é a chuva. Ela, sim, um imponderável sem possibilidade de controle. E há previsão…

As novidades de 2017 começam na estrutura do espetáculo definida pelas alterações no regulamento da Liesa, a Liga das Escolas de Samba, para este carnaval. Menos tempo de desfile, agora são 75 minutos para cada agremiação. Um carro alegórico a menos, são 6 por escola. Menos paradas para apresentações para os julgadores, apesar de continuarem existindo 4 cabines de julgamento, as duas centrais estão no mesmo ponto. Um novo horário, agora começa às 22 horas a festa no Sambódromo Darcy Ribeiro, a mítica passarela carnavalesca carioca, na Marquês de Sapucaí.

Infelizmente quem vê o desfile pela televisão continuará sem assistir a íntegra da apresentação das primeiras agremiações. E olha que as alterações se justificavam justamente para que, ao contrário do ano passado, as escolas que abrem a festa no domingo e na segunda-feira de carnaval pudessem ser transmitidas para o Brasil e o mundo. Serão, mas parcialmente.

Domingo é dia de índio, música e comédia

No domingo o Paraíso do Tuiti, campeão da Série A do Acesso, abre o Desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro. “Carnavaleidoscópio Tropifágico”, enredo de Jack Vasconcelos, homenageia o Movimento Tropicalista. O carnavalesco já avisa: “o enredo não é político”.

A levada continua musical, porém, levantando a poeira do Axé da baiana Ivete Sangalo na única homenagem a uma personalidade deste ano. A Grande Rio vem com “Ivete de rio a Rio”. A proposta de Fábio Ricardo passeia pela vida da cantora.

Quando, no início do ano, videntes disseram que a Grande Rio, a Beija-Flor e a Imperatriz Leopoldinense estariam no páreo para o título de 2017 foi uma surpresa. Para começar, as três desfilam no domingo e, de 2.000 para cá, apenas a Vila (2006) e a Tijuca (2010) ganharam o título no primeiro dia de competição. A campeã costuma sair das escolas que se apresentam na segunda-feira.

Logo depois, a polêmica provocada pelo “Belo Monstro” e outros detalhes do enredo da Imperatriz Leopoldinense a colocaram em evidência. Xingu, o clamor da floresta” desagradou o agronegócio. Foi bravamente defendido por seu criador Cahê Rodrigues que, com o apoio do presidente Luizinho Drumond e da comunidade, manteve o projeto original. A tentativa de censurar ou modificar a proposta acabou saindo pela culatra. Popularizou o tema, mexendo com os brios dos componentes da escola de Ramos. Índio quer espaço e, se isso divide opiniões, a Imperatriz contrabalança com uma unanimidade: o retorno de Luiza Brunet como Musa à passarela do samba.

“Vila, azul que dá o tom da minha vida…” o enredo “O Som da Cor“, de Alex de Souza produziu um dos melhores sambas do ano, interpretado por Igor Sorriso e a Suingueira de Noel. A escola tenta se reerguer após chegar a anunciar que não participaria do carnaval por ter tido suas contas bloqueadas na justiça ano passado. Vem prometendo Kizombar.

O Salgueiro continua por ali. Loucos para “morder” mais um título, Renato e Márcia Lage desenvolvem o enredo “A Divina Comédia do Carnaval” enquanto, nos bastidores, se comenta que o carnavalesco teria fechado com a Unidos da Tijuca para o próximo ano.

A noite termina com a Beija-Flor e “A Virgem dos Lábios de Mel – Iracema”. Uma das novidades da comunidade nilopolitana será a ausência de alas, já adiantou Laíla, coordenador da comissão de carnaval. Um alerta. O samba, puxado por Neguinho da Beija-flor, é um chiclete daqueles que não sai da cabeça nem os sonhos mais exaustos de quem voltará para a Sapucaí para o segundo dia de desfiles…

Mangueira em busca do bi campeonato

Marrocos aos USA nos rios do tempo da simpatia Pensar mal disso? É segunda!

O carnavalesco Severo Luzardo estreia no Grupo Especial apresentando o passado, o presente e o futuro sob a ótica africana do candomblé da nação de Angola, dos povos Bantos, “puxado” por Ito Melodia, no enredo “Nzara Ndembu – Glória ao Senhor Tempo“.

Depois da festa de encerramento das Olimpíadas, Rosa Magalhães se debruçou sobre a preparação do carnaval da São Clemente. Tenta falar aí: “Onisuáquimalipanse” Traduzind o: Envergonhe-se quem pensar mal disso. E vamos esperar para ver o que a carnavalesca campeã das campeãs trará para a Sapucaí.

Abre-te Sésamo que o samba ordenou: vindo lá do Marrocos de Padre Miguel, “As Mil e Uma Noites de uma ‘Mocidade’ prá lá de Marrakesh”, apresenta um ótimo samba para embalar o enredo das arábias de Alexandre Louzada e Edson Pereira.

A vice-campeã de 2016, Unidos da Tijuca falará sobre música, a americana. “Música na Alma, Inspiração de uma Nação”, e dá-lhe variedade! A sinopse do enredo da comissão composta por Mauro Quintaes, Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo, tem até um glossário para explicar termos e estilos musicais dos USA.

E aí, vem a Portela, num ano conturbado com a morte de seu presidente Marcos Falcon. O vice, Luis Carlos Magalhães teve que se desdobrar para administrar o projeto de carnaval. Já em 2017, por exemplo, foi trocado, por exigência do carnavalesco Paulo Barros, o comando da comissão de frente! Mesmo antes do desfile, seu enredo já é realidade para os portelenses: “Quem nunca sentiu seu corpo arrepiar ao ver esse rio passar”. As chances de um bom resultado aumentam com o fim do mandato de Eduardo Paes, portelense assumido e um pé-frio daqueles. Em 8 anos de torcida e apoio declarado a escola de Osvaldo Cruz não conseguiu chegar ao título.

A última escola a desfilar confirma a regra por ser exceção. Só os mangueirenses mais apaixonados apostavam no título conquistado em 2016 pelo jovem carnavalesco estreante no Grupo Especial, Leandro Vieira. Diante das previsões dos videntes, novamente, ele corre por fora. Nascido e criado para vencer demanda, cercado de todas as proteções imagináveis, conta com muita força lá de cima! Leandro avaliou suas possibilidades de chegar ao bicampeonato até no título do enredo verde e rosa. “Só com a ajuda do Santo”.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É carnaval”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Ordem dos desfiles:

Domingo: Paraíso do Tuiuti, Grande Rio, Imperatriz, Vila, Salgueiro e Beija-flor

Segunda: Ilha, São Clemente, Mocidade, Unidos da Tijuca, Portela, Mangueira

Tá difícil! Pensando bem, quando não foi?

2Carnavalia 1506 009 mãos chapéuTexto e foto de Valéria del Cueto

Estamos em junho o assunto da última quinzena do mês  é… carnaval!

Pra quem pensa que a sequencia de maravilhas do mundo apresentadas num desfile de carnaval brota assim, de estalo, uma notícia: não é beeem assim.

De fevereiro para cá já rolou uma enormidade de água debaixo dessa ponte. A janela de contratações e troca-troca de agremiações começa ainda na pista da Sapucaí, no desfile das Campeãs. Uma época de montagem de estratégias e definições de estilos de trabalho para o carnaval seguinte. O vai-e-vem continua, mas sem dúvida, o momento das  surpresas e movimentações espetaculares não costuma chegar ao fim da quaresma.

O engraçado é que, como todo mundo vem “virando”, trocando o dia pela noite, tanto no pré-carnaval como nos dias de folia, as grandes notícias das contratações são dadas, em sua maioria, no fim de tarde/noite/ madrugada dos dias posteriores ao reinado de momo. As especulações também circulam nessa faixa horária…

Depois do boom dos sites carnavalescos as redes sociais se encarregam de repercutir com sua incrível capilaridade e uma agilidade espantosa os resultados das negociações. Elas prosseguem enquanto são realizadas inúmeras festas de entrega de premiações para todos os grupos, do Especial ao grupo E. O final da temporada é marcado pelo esperado Sambanet que aconteceu dia 22 de maio.

Mas aí, já havia outros assuntos palpitantes no circuito carnavalesco. Primeiro, os anúncios dos temas dos enredos. Seguido pela divulgação de seus textos e apresentação dos mesmos aos compositores das escolas de samba. É claro que cada uma tem seu ritmo. A única certeza é que os sambas devem estar definidos até as datas fixadas no calendário para as gravações oficiais, a tempo de distribuir os CDs para as vendas, antes do Natal.

Até lá ainda há muito trecho para percorrer e problemas a serem resolvidos. Especialmente num ano como esse, atípico em função da crise econômica brasileira…

Pode até parecer que ela é a bola da vez dos debates e reflexões que estão movimentando as mesas do  Sambacon, Encontro Nacional do Samba, em suas palestras. A segunda edição do evento acontece paralelamente a Carnavália, feira da cadeia produtiva do carnaval, no Centro de Convenções SulAmérica, Cidade Nova, ao ladinho do Estácio. A situação anda ruim pra todo mundo e seus reflexos certamente atingiriam os súditos de Momo. O problema é que outros fatores há muito vem se acumulando para o desgaste do modelo atual do carnaval.

Alguma novidade? Claro que não! Os cronistas carnavalescos já registravam há mais de um século os gargalos que estavam levando o carnaval para o buraco. E tome polca! Mais recentemente, as “Super Escolas de Samba S/A” viraram inspiração para os versos consagrados de Beto Sem Braço e Aluisio Machado nos idos de 1982, do “Bum Bum, Praticumbum Brugurundum”, do Império Serrano.

Nada que não possa ser posto na roda e discutido na primeira versão internacionalizada do Carnavália-Sambacon. Convidados da Europa, América Latina, Estados Unidos e Japão integrarão a mesa mediada do carnavalesco Milton Cunha, Professor Doutor em Teoria do Carnaval pela UFRJ.

Pensa que acabou? Uma vírgula! Na semana que vem o seminário “Sonhar não custa nada, ou quase nada? – Horizontes dos desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro”, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, reflete sobre 3 questões: Do que se trata um evento lúdico-artístico no qual os sonhos adquirem expressividade pública para audiências cada vez mais amplas? Como se materializam sonhos do Desfile das Escolas de Samba? Sob quais condições organizacionais, materiais e simbólicas, atualmente, tais materializações são possíveis?

A Academia quer mostrar que também tem samba no pé…

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É Carnaval”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Mostra no pé, leva fé

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Texto e fotos de Valéria del Cueto

Os últimos dias antes do carnaval superam qualquer enredo de escola de samba. Mesmo os mais fantasiosos e delirantes de Joãozinho 30.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, depois de prudentemente botar a cidade em alerta por causa da ameaça de uma chuvarada, resolveu vestir sua fantasia  antecipar a resposta à pergunta/tema da Mocidade Independente “Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia?” Declarou que quer ver a Portela campeã! Mais atrapalhou que ajudou, assim como a suposição levantada por um jornal carioca de que os abre-alas da Portela e da Mangueira tinham a mesma inspiração. Pode ser boato… A Beija-Flor está nos noticiários por que teria recebido um gordíssimo patrocínio de um sanguinário ditador africano, o presidente de Guiné Equatorial. Já ouviu falar?

Não é boato que a Rede Globo, além de não transmitir o desfile das campeãs, mudará a ordem das apresentações das escolas. As primeiras foram lançadas para o final da transmissão. Para adequar a grade da emissora, o televisionamento será da segunda escola em diante. Viradouro, no domingo, e São Clemente, na segunda, serão empurradas em VTs para o final das respectivas noites. Veja no box links em que é possível, não apenas acompanhar os dois desfiles como, também, ter acesso a comentários e avaliações mais interessantes do que os da emissora padrão durante todo o evento.

DOMINGO – Quem abre o carnaval no domingo é a Viradouro, de Niterói, que volta ao grupo Especial cantado ideias do compositor Luis Carlos da Vila. O samba é bom, puxado Zé Paulo Sierra que já foi um dos tenores da Mangueira. Uma mulher, a primeira, é  parte da comissão de bateria, é a mestre Thalita Freitas.

As rosas vão se espalhar pela Sapucaí já no abre-alas da escola de Dona Zica e tantas outras mulheres mangueirenses, perfumada por seu aroma. Cantar as suas mulheres e as brasileiras, embalados pelos mestres/meninos da primeira ala – a da bateria, é parte da emoção com que Cid Carvalho, o carnavalesco, quer arrebatar a avenida. Com Benito de Paula e tudo!

A seguir, vem Paulo Barros e a Mocidade Independente exercitando a imaginação na provocadora pergunta: “Se só te restasse um dia?” Só os deuses do carnaval sabem o que vem por ali. A verde e branca será movida por um carnavalesco querendo se recriar…

A Vila Isabel tenta se recuperar, após o fraco desfile do ano passado, falando de música e homenageando o maestro Isaac Karabtchevsky. Vale procurar Martinho da Vila na pista. Há 50 anos ele entrava para a escola que lhe deu nome e onde fez história.

Outra que pisa na Sapucaí em ritmo de comemoração é a rainha de bateria do Salgueiro, Viviane Araújo. 20 anos de desfile não é para qualquer uma! Segundo lugar, ano passado, o enredo de delícias mineiras de Renato e Márcia Lage, parece ter “mineiramente”, contaminado os salgueirenses. Atenção à Porta Bandeira Marcella Alves, com seu parceiro Sidcley.

A noite fecha com a Grande Rio e um dos carnavalescos mais festejados da nova safra, Fábio Ricardo, prometendo uma virada de jogo, no enredo que fala do… baralho.   

SEGUNDA – A São Clemente vem cheia de assombrações e mitos acreanos, carnavalizando as origens das fantasias infantis de Fernando Pamplona. É a criatura, a campeã de títulos na Sapucaí, Rosa Magalhães, falando do criador. Dela e de muitos outros talentos que “desenharam” o formato do desfile das escolas de samba. Se todos os seus seguidores participarem do cortejo, a coisa vai longe.

Alexandre Louzada assina o desfile da Portela. A escola de Oswaldo Cruz apresenta uma versão surrealista, sob o ponto de vista de uma de suas maiores expressões, Salvador Dali, da Cidade Maravilhosa. E o samba é bom. Falaram e falam que querem por que querem. É bom lembrar que nos últimos 12 anos, apenas 4 escolas foram campeãs: Beija- Flor, Salgueiro, Unidos da Tijuca e Vila Isabel. Tem muita gente seca pra quebrar essa escrita.

Mas, para isso, vai ter que passar pelos brios da representante de Nilópolis, muito mal colocada ano passado. Esse ano Neguinho da Beija-Flor puxa um samba  sobre Griôs, África e a Guiné Equatorial.

“Beleza Pura”, do carnavalesco Alex de Souza, para a União da Ilha do Governador em todos os aspectos e circunstâncias. Principalmente com o samba puxado por Ito Melodia e com a bateria comandada por mestre Ciça.

A Imperatriz Leopoldinense é outra que corre por fora sem muito alarde. Depois do jogador Zico, homenageado ano passado, Cahê Rodrigues, o carnavalesco, passa a bola para Nkenda, Nelson Mandela, e um enredo sobre negritude africana.

A segunda noite é fechada pela campeã do ano passado, a Unidos da Tijuca, embalada pelas  reminiscências infantis de Clóvis Bornay, personalidade carnavalesca, das histórias contadas por seu pai sobre a Suíça.

É bom lembrar que emoção não ganha jogo, especialmente pelas regras do manual de julgamento da Liesa… 

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É carnaval”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Transmissões ao vivo dos desfiles:

Rádio Arquibancada www.radioarquibancada.com.br/

Tupi Carnaval Total  www.carnaval.tupi.am/

O Carnavalesco www.carnavalesco.com.br/

Horário
dos Desfiles
DOMINGO
15/02/2015
Início 21:30
Viradouro
 
Entre 22:35 e 22:52
Mangueira
Entre 23:10 e 23:44
Mocidade
Entre 00:45 e 01:36
Vila Isabel
Entre 01:50 e 02:58
Salgueiro
Entre 02:55 e 04:20
Grande Rio
 
Horário
dos Desfiles
SEGUNDA
16/02/2015
Início 21:30
São Clemente
 
Entre 22:35 e 22:52
Portela
Entre 23:10 e 23:44
Beija-Flor
Entre 00:45 e 01:36
União da Ilha
 
Entre 01:50 e 02:58
Imperatriz
            Entre 02:55 e 04:20
  Unidos da Tijuca
 

O enredo desse samba

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Texto e fotos de Valéria del Cueto

Na reta final dos preparativos do Sambódromo Darcy Ribeiro, na Marquês de Sapucaí, Rio de Janeiro, para os desfiles do Grupo Especial é hora da benção e dos ajustes finais, neste domingo. A benção será dada, como em anos anteriores,  pelas baianas de todas as escolas. Elas lavam a pista com água de cheiro, abrem os caminhos com defumadores, distribuem palmas e arruda para a plateia embaladas por sambas de terreiro. Abrem o cortejo mestre-salas e porta-bandeiras trazendo os pavilhões das agremiações cariocas. No final, a imagem do protetor do Rio de Janeiro, São Sebastião.

Só essa cerimônia já vale a viagem até o centro da Cidade logo mais, mas a festa ainda guarda um evento esperado por todos. Depois que o povo do samba passar e dos testes finais de som e de luz, vem o ensaio técnico da escola campeã do ano anterior.

A Unidos da Tijuca, agora sem o carnavalesco Paulo Barros, fará o reconhecimento das condições finais da pista onde defenderá o enredo “Um conto marcado no tempo – o olhar suíço de Clóvis Bornay”, do departamento de carnaval composto por Mauro Quintaes, Annik Salmon, Hélcio Paim, Marcus Paulo e Carlos Carvalho. Nas redes já há um viral da Nestlé com um trecho do samba e a visita de componentes da escola a fábrica de chocolates na… Suiça, indicando a origem patrocinada do tema.

Essa seria uma das razões da troca do carnavalesco Paulo Barros. ele deixou a escola do Borel após o campeonato sobre o piloto Aírton Senna. Na Mocidade Independente de Padre Miguel emplacou seu enredo autoral “Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia?”. Baseada na música de Paulinho Moska, a pergunta pode render um desfile que permita ao carnavalesco dar vazão a sua criatividade, questionada por quem vê em seus últimos carnavais a repetição de fórmulas de sucessos anteriores.

Quem também trocou de casa foi a campeoníssima Rosa Magalhães. Da Mangueira foi para a São Clemente e lá homenageará Fernando Pamplona, “pai dos carnavalescos” (levou Rosa e muitos outros talentos, como Joãozinho Trinta, para o mundo das escolas de samba), com o enredo “A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Perera, da Tocandira e da Onça de pé de boi” que começa no Acre e passeia pelo imaginário infantil e adulto do criador genial.

A verde e rosa vem com um enredo louvando sua própria comunidade. Cid Carvalho parte da força motriz do  morro de Mangueira e abre o leque, avisando: ”Agora chegou a vez vou cantar: mulher de Mangueira, mulher brasileira em primeiro lugar”

Outra referência ligada ao mundo do carnaval será feita pela Viradouro: “Nas Veias do Brasil, é a Viradouro em um Dia de Graça!” Dois sambas do compositor Luiz Carlos da Vila, “Nas veias do Brasil” e “Por um dia de Graça” são a base da sinopse criada por Milton Cunha e desenvolvida pelo  carnavalesco João Vitor Araújo para falar da negritude brasileira.

“Axé, Nkenda! Um ritual de liberdade e que a voz da liberdade seja sempre a nossa voz” levará os componentes da Imperatriz do carnavalesco Cahê Rodrigues a uma viagem pela história da África, dos negros e dos preceitos de Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando uma pessoa por sua cor de pele ou religião. Pessoas são ensinadas a odiar. E se elas aprendem a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”  A mesma linha abordada pela comissão de Carnaval da Beija- Flor: Laíla, Fran Sérgio, Ubiratan Silva, Victor Santos, André Cezari, Bianca Behrends e Claudio Russo, com o recorte que fala da Casa de Guiné e da reconstrução africana “Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guina Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade”. Tudo para superar o resultado do ano passado, cujo enredo sobre Boni, o  da televisão, deixou a azul e branca fora do desfile das campeãs, uma raridade.

Max Nunes tenta recuperar a Vila Isabel que passou um perrengue ano passado falando de Isaac Karabtchevsky “O maestro brasileiro na Terra de Noel…. tem partitura azul e branca da nossa Vila Isabel”

Em “A Grande Rio é do baralho” as cartas estão na mesa no enredo de Fábio Ricardo, para a escola de Duque de Caxias. No Salgueiro, Renato e Márcia Lage, fazem uma viagem pelo universo culinário mineiro com “Do fundo do quintal, saberes e sabores na Sapucaí”.

A linha da irreverência é explorada por Alex de Souza, ao explicar os aspectos da beleza moderna na União da Ilha do Governador. É o enredo com o título mais sucinto do ano: “Beleza Pura”.  

Não poderia faltar uma ode aos 450 anos do Rio de Janeiro comemorados logo depois do carnaval, dia 1 de março. Alexandre Louzada apresenta a Cidade Maravilhosa sob perspectiva do surrealismo de  Salvador Dali no enredo “Imagina Rio, 450 janeiros de uma cidade surreal”. Não dá para negar a liga entre o local e o pintor espanhol, caminho escolhido pela Portela, para acabar com o jejum de títulos da escola de samba com o maior número de campeonatos da história do carnaval.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É carnaval”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Rio de Janeiro: cidade à venda? (via Blog da Raquel Rolnik)

Depois de anunciar o projeto “Estação Patrocinada”, o Metrô Rio, concessionária que administra o metrô do Rio de Janeiro, teve que voltar atrás em seus planos de “vender” o nome das estações de metrô da cidade, que passaria a ser associado ao nome de empresas privadas. No dia 16 de maio, o governador Sérgio Cabral vetou a proposta, que, de acordo com a imprensa, havia sido idealizada pela empresa IMX, de Eike Batista. O site do Metrô Rio já tirou do ar todas as informações relativas ao projeto.

Em nota, a assessoria de imprensa da concessionária afirmou que “o projeto Estação Patrocinada não muda em absoluto o nome das estações, e sim permite a adoção comercial de cada uma. Destacamos que a receita acessória é revertida para o conforto dos usuários e ambientação das estações, conforme previsto no contrato de concessão.” A assessoria diz ainda que “os patrocinadores se comprometerão a oferecer serviços adicionais para os usuários nessas estações. […] Desta forma, poderão surgir nas estações espaços de convivência, internet Wi-fi, ações culturais e exposições.” Parece que o que foi enterrado, portanto, foi apenas a possibilidade de associação do nome das empresas às estações.

Essa possibilidade de fato surpreendeu muita gente. Pelo visto, nem o governador aguentou. Vale a pena lembrar, porém, que desde o final de 2011, a SuperVia, concessionária privada que administra os trens suburbanos e o teleférico do Alemão, já deu início a uma iniciativa semelhante. Das seis estações do sistema, duas já tiveram seus nomes “vendidos”: Alemão-Kibon e Bonsucesso-Tim. Mas o fato é que estamos falando de coisa pública. Por serem administrados por concessionárias, o metrô, os trens e os teleféricos não são menos públicos. As concessionárias não são “donas” nem das estações, nem dos trens…

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A cultura na lata de lixo (via blog da revista espaço acadêmico)

Por Marcelo Gruman

Na última terça-feira, dia 05 de março, a cidade do Rio de Janeiro foi atingida por um temporal que, em poucos minutos, a mergulhou, literalmente, num caos. Quase instantaneamente, ruas e avenidas transformaram-se em rios imundos, compostos de uma mistura fétida de lama, esgoto, galhos de árvores arrancados com a força do vento, lixo de todo tipo (garrafas pet, latas de todos os tamanhos, ferro-velho de modo geral), animais mortos. Dois dos principais túneis da cidade foram fechados, o prefeito recomendou que a população permanecesse onde estivesse até que a situação se “normalizasse” (como se o carioca, mesmo que quisesse, pudesse sair do lugar). As consequências do dilúvio foram conhecidas na manhã seguinte, carros largados no meio da rua, montanhas de lixo acumulado nas esquinas, toneladas de vegetação espalhadas por todo lado, porteiros tirando da frente dos prédios a sujeira que impedia a livre circulação da população pelas calçadas. Cinco pessoas morreram, em diferentes pontos da cidade. Aparentemente, fenômenos climáticos não têm relação com “fenômenos” culturais, mas, neste caso, há.

Quando tragédias deste tipo acontecem, logo tentamos apontar culpados. Geralmente, o algoz preferido é o Estado ou, mais comumente, seus representantes, governador, prefeito, vereadores, invariavelmente “pegos para Cristo”, incorporando o Mal absoluto. É verdade que o poder público é poder exatamente por ter sido investido da prerrogativa de legislar e executar tudo aquilo que beneficie os responsáveis pela investidura, a cada quatro anos, a população. O Estado tem a obrigação de elaborar e bem executar políticas públicas, dentre elas, o planejamento urbano, fundamental em momentos de crise como o vivido na noite do dia 05 de março. Gestão de riscos, diriam os especialistas. Os representantes do Estado não admitem falhas no planejamento, preferem culpar São Pedro, e insistem que a estrutura dos órgãos públicos responsáveis pela contenção ou redução dos danos materiais e morais funcionou dentro do esperado. Concorde-se ou não com estas afirmações, é fato que o poder público é apenas parte do problema, devendo compartilhar responsabilidades com a própria população.

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UNESCO aprova título de Patrimônio Mundial para a Paisagem Cultural do Rio de Janeiro

Este domingo, dia 1º de julho de 2012, é um dia histórico para o Brasil. É a data em que a cidade do Rio de Janeiro tornou-se a primeira do mundo a receber o título da UNESCO de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural. A candidatura, apresentada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), foi aprovada durante a 36ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, que está reunido em São Petersburgo, na Rússia, desde o dia 25 de junho. A Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e o Presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, que acompanharam os trabalhos, comemoraram a decisão que resultou na inclusão de mais um bem brasileiro na Lista de Patrimônio Mundial.

Para a Ministra Ana de Hollanda, “o resultado é a consequência de um estudo minucioso do IPHAN em que se avaliou a forma criativa com que o habitante se adaptou à topografia excepcionalmente bela e irregular da cidade, inventando modos inéditos de usufruir a vida”. O Presidente do IPHAN explicou que “a paisagem carioca é a imagem mais explícita do que podemos chamar de civilização brasileira com sua originalidade, desafios, contradições e possibilidades”.

A partir de agora, os locais da cidade valorizados com o título da UNESCO serão alvo de ações integradas visando à preservação da sua paisagem cultural. São eles o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo, o Jardim Botânico e famosa praia de Copacabana, além da entrada da Baía de Guanabara. Os bens cariocas incluem o forte e o morro do Leme, o forte de Copacabana e o Arpoador, o Parque do Flamengo e a enseada de Botafogo.

O Rio como Patrimônio Cultural da Humanidade
O IPHAN trabalhou na candidatura do Rio de Janeiro como Paisagem Cultural, em parceria com o Governo do Estado e a Prefeitura do Rio de Janeiro, a Fundação Roberto Marinho e a Associação de Empreendedores Amigos da UNESCO. Em setembro de 2009, o IPHAN entregou à UNESCO o dossiê completo da candidatura, justificando seu valor universal pela interação da sua beleza natural com a intervenção humana.

O conceito de paisagem cultural foi adotado pela UNESCO em 1992 e incorporado como uma nova tipologia de reconhecimento dos bens culturais, conforme a Convenção de 1972 que instituiu a Lista do Patrimônio Mundial. Até o momento, os sítios reconhecidos mundialmente como paisagem cultural relacionam-se a áreas rurais, a sistemas agrícolas tradicionais, a jardins históricos e a outros locais de cunho simbólico, religioso e afetivo. O reconhecimento do Rio de Janeiro culminará uma nova visão e abordagem sobre os bens culturais inscritos na Lista do Patrimônio Mundial.

Patrimônios Mundiais no Brasil
Além da Paisagem Cultural do Rio de Janeiro, o Brasil conta hoje com outros 18 bens culturais e naturais na lista de 961 bens reconhecidos pela UNESCO.

Os bens culturais estão compostos por: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto, Minas Gerais (1980); Centro Histórico de Olinda, Pernambuco (1982); Ruínas de São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul (1983); Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas, Minas (1985); Centro Histórico de Salvador, Bahia (1985); Conjunto Urbanístico de Brasília, Distrito Federal (1987); Centro Histórico de São Luís, Maranhão (1997); Centro Histórico de Diamantina, Minas (1999); Centro Histórico de Goiás, Goiás (2001); Praça de São Francisco em São Cristovão, Sergipe (2010).

Já os bens naturais são: Parque Nacional do Iguaçu, Paraná (1986); Costa do Descobrimento, Bahia e Espírito Santo (1997); Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí (1998); Reserva Mata Atlântica, São Paulo e Paraná (1999); Parque Nacional do Jaú, Amazonas (2000); Pantanal Mato-grossense, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (2000); Reservas do Cerrado: Parque Nacional dos Veadeiros e das Emas, Goiás (2001); e Parque Nacional de Fernando de Noronha, Pernambuco (2001).

“Velozes 5” e “Se beber, não case 2”: que países são esses? (via Complexo C)


De um lado a animação Rio, do brasileiro Carlos Saldanha, usa estereótipos ultrapassados para representar a Cidade Maravilhosa de maneira ufanista. Do outro, o quinto filme da franquia de ação Velozes e furiosos atualiza a mitologia que cerca o Rio, mas o faz de maneira a depreciar a cidade. O mesmo faz a comédia Se beber, não case! Parte 2 com a capital da Tailândia. … Read More via Complexo C