Depois de ter falhado a conversão de uma grande penalidade (expressão futebolesa carregada de ressonâncias religiosas), Cristiano Ronaldo acabou por marcar um golo, na marcação de um livre indirecto. A complementar a descompressão, soltou um sonoro e evidente “foda-se!”, essa interjeição tão portuguesa e tão reveladora de alívio, revolta, raiva, frustração ou qualquer outro sentimento à escolha.
Sendo o português e o castelhano línguas de tão próximo parentesco e estando o balneário do Real Madrid em estado de sítio, a comunicação social espanhola, pouco conhecedora da língua portuguesa, deixou-se enganar pela aparência e julgou que Cristiano Ronaldo estaria a insultar alguém, escolhendo Mourinho como hipotético alvo de um insulto inexistente.
Não é que Cristiano Ronaldo seja um primor de elevação ou de desportivismo, como será inegável que a relação com Mourinho esteja muito desgastada, mas, neste caso, é evidente que foi a ignorância a ditar uma conclusão.
Assim, seria importante que alguém ensinasse aos espanhóis a diferença entre uma interjeição e um insulto. Quero, assim, deixar o meu contributo para uma didáctica do “foder”.
Num primeiro momento, poderá ser feita uma comparação entre Passos Coelho e Mariano Rajoy. Depois, poderá explicar-se que o português, farto de ser roubado pelo triste barítono português, soltará um “foda-se!” de revolta sempre que tiver o azar de ver na televisão o ocupante do cargo de primeiro-ministro, usando um tom similar ao de alguém que, estando descalço, mandou um pontapé numa mesa que já lá estava e não devia estar. Depois de ouvir Passos Coelho, esse Rajoy lusitano, anunciar, pela milésima vez, mais um corte, o português vitimado recorrerá, como solução imediata, a um “Vai-te foder!”, dirigido a um assaltante engravatado que tem a sorte de estar longe. Acrescentar a essa expressão “filhadaputa” ou “filhadagandaputa” é opcional, mas habitual. Há, até, quem diga que é inevitável.
Via Aventar