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Espaço Alheio

Texto  foto de Valéria del Cueto

Era uma fresta do terreno do edifício. Uma nesga que sobrou do projeto arquitetônico, mais um quadrado ao lado do apartamento do porteiro no térreo. No princípio nem calçado o terreno era.

Ficava do outro lado do muro do espaço destinado à área de lazer do condomínio usada pela garotada que se esbaldava na “quadra polivalente” de vôlei, queimada, de pelada depois da praia…

Era ela, a bola, que fazia a gente explorar além dos muros quando ia quicar nas bandas do alojamento do porteiro ou pedir passagem para alcançar a casa ao lado, destino certo do objeto perdido.

O tempo passou, a vida seguiu e por muito anos não houve registro da evolução da ocupação ou adequação da área de recreação do prédio para a realidade que também se transformava. Humanizar, reinventar, verdejar? Só se for lá fora…

Numa das voltas que o mundo dá vem um retorno ao mesmo endereço. Um olhar aéreo da janela registra a aridez do ambiente que abrigou tantas brincadeiras, alegrias e gargalhadas. Um nada com fundo cinza escuro onde, no máximo, os carros dos moradores são manobrados. A feiura se completa pela moldura das paredes sujas que só quem mora no bloco de trás é obrigado a apreciar. A sindica, é claro, habita a ala que dá para a rua, cheia de árvores, movimento e vida.

O outro espaço, o da nesga anexa ao quadrado, virou bicicletário. E algo mais. É ali que os funcionários do prédio mantem um pequeno jardim. No espaço estreito, uma fileira de vasos com plantas bem cuidadas. No quadrado, agora pavimentado, fica a área das bicicletas penduradas embaixo de um meio telhado. E, rente a parede, um bucólico banco de madeira e ferro, desses de jardim. Com a permissão dos donos do pedaço uma ou duas vezes usufruí do banquinho quando queria estudar em paz e tinha, por exemplo, barulho de obras dos vizinhos invadindo o apartamento.

Depois de uma intimada, vinda após a declaração de que “importante é que o bloco da frente siga os padrões obrigatórios para não atrair a atenção dos fiscais da prefeitura”, as paredes da antiga área de lazer foram pintadas. Que avanço…

E veio a pandemia, e chegou o isolamento. Todos presos em casa. Incluindo as crianças da nova geração. Novamente as risadas, o barulho das rodas dos velocípedes, brinquedos coloridos. Não da parte triste e mal cuidada dos moradores (que exibe um piso sujo e desleixado), de quem vê a rua das janelas do bloco da frente. A animação infantil se localiza no jardim oculto dos empregados do prédio!

Um dia uma máquina de jato de água aparece limpando o pretume do piso do lado “oficial” abandonado. Ele muda de cor para tons de cinza claro e expõe as cicatrizes das obras feitas na garagem que está no subsolo.

Cheguei a ter esperanças na revitalização do espaço inútil. Dava para transformar num lugar bem aprazível. Caberia até uma horta, imaginava ingênua.

Dias mais tarde as vozes infantis subiram novamente. Elas vinham do jardim dos porteiros agora, em parte, coberto de grama sintética e adereçado com escorregadores, casinhas e outras alegorias infantis.

Em vez de cuidar da área que nos cabe foi mais simples e prático ocupar o recanto bem cuidado dos empregados…

Moral da história: Além de não cuidar do que lhes pertence tem os que sempre almejam e se apossam do que outros constroem com esforço e dedicação.

Agora, amplia a fábula (dessa vez pouco fabulosa) e “modula”, por exemplo, para a reforma administrativa…

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com

Quase parando

Texto e foto de Valéria del Cueto

Já tentei de um tudo para voltar á normalidade semanal na escrevinhação. Sem muito sucesso…

É a vontade de continuar firme e forte no propósito que me traz até aqui, numa parte importante de como tudo começou. Várias partes aliás, menos aquela que responde a uma das questões essenciais de quase todos os bons textos.

O “onde” está alterado. Sai a Ponta do Leme para dar lugar à Ponta do Arpoador. Guardadas as devidas proporções, é tudo pedra. Do Leme, do Arpoador…

No más é o retorno à ideia original.

Hoje é sexta-feira, são quatro horas da tarde e estou… na praia.

Temos o onde, o quando e o como. Cadê o porquê? Esse, não sei porque não anda dando tempo para decifrá-lo.

Como a imagem que ilustra a crônica. Foi questão de segundos. Eu disse de segundos! Só deu tempo (olha ele aí) para pegar a Lumix e clicar duas vezes. Entre o abrir a bolsa e puxar o celular para fazer a #xepa, o registro do Instagram, e lá se foi a composição.

Antes de que eu conseguisse armar a câmera o sol saiu detrás da nuvem (ou será que foi a nuvem que correu da frente dele?) e lavou a imagem com seu brilho, tirando o “drama” do contorno da nebulosidade fugitiva.

Assim anda tudo. Muita velocidade para pouca capacidade de absorção.

Claro que nem meu exercício fotográfico, nem a ginástica mental, fazem a mínima diferença para quem está ao redor.

Na pouca areia os vendedores circulam entre turistas e locais dispostos a aproveitarem o dia pós dilúvio. Quinta foi de chuvarada.

Os surfistas não dão a mínima para a sujeira da água do mar. Só têm olhos, braços e pernas para as desafiantes ondulações ainda altas, graças a última ressaca. E tem muitos atletas.

Todos querendo tirar o atraso dos dias em que o mar, de tão mexido, não permitia que ninguém caísse. Não era uma questão só de coragem. Era de formação das ondas. Indomáveis!

A calmaria ainda não chegou, mas já permite o zig-zag nas ondas enquanto para o sul se vê a nova frente fria se aproximando por cima do Vidigal e do Dois Irmãos. Tudo preto para aquele lado.

Uma delícia gastar linhas e páginas descrevendo o paraíso na terra. E em que terra. Nessa mesma, onde o pingo que já foi letra não passa de uma eterna reticência.

Aquela pátria amada que, faz muito, abandonou a gentileza e adotou a violência como ponto de partida para qualquer princípio de conversa(?).

Aquela que sempre já começa… atravessada. Que nem escola de samba, quando a bateria vai para um lado e a cantoria para o outro.

Não há mais tempo para os outros. O que dirá para nós.

Por isso as crônicas andam rateando. Elas se baseiam nos pressupostos de observação, sensação (não necessariamente nessa ordem), pesquisa, análise e dedução amorosa, se possível.

Ah, tá. E a velocidade dos atos e fatos, onde é que fica? Ela deturpa, invalida, desvia as conclusões. Se não por forçar uma depuração artificial e apressada (e, portanto, perigosa), pela desatualização imediata dos dados e parâmetros consolidados para desenvolver o raciocínio dos textos.

O que é, era e não será mais. Num piscar de olhos. Como na foto…

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Arpoador”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Nota sobre o orifício circular corrugado (via malvadezas)

O cu está situado num lugar de difícil acesso para o seu dono ou sua dona. Para ter algum contato com ele, observar seus mínimos detalhes, é preciso certo contorcionismo e contar com o auxílio indispensável de um espelho. O cu é a parte mais recatada da anatomia humana e aquela que temos menos contato visual durante a nossa curta existência. Sabemos que ele está lá, cumprindo a sua função diária, e isso nos basta. Será?  … Read More via malvadezas

O mais irônico de tudo é que eu vou publicar no Facebook (via SAMBA DE TERNO)

Em Pernambuco, no nosso dialeto, existe um adjetivo muito utilizado no cotidiano tanto das pessoas ricas quanto das pessoas pobres. Eu inclusive o utilizo, de vez em quando, e sempre me recordo da minha infância quando escuto soar a referida palavra. E apesar do caráter bucólico e saudosista que a mera pronúncia desta palavra desperta em mim, eu confesso que o fonema, em si, não me agrada muito. O som não é legal. Não sei se vocês também acham. Estou falando de abestalhado.

Francamente, não vou me dar ao trabalho de parar o que eu estou fazendo para ir verificar o significado do vocábulo abestalhado no dicionário, embora haja dois deles na minha mesa nesse exato momento: um míni Michaelis, da época do colégio, e o Aurelião, um pouco mais recente que o outro, mas nem por isso um exemplo de juventude. Que é que estaria escrito lá no dicionário? Algo do tipo, adjetivo masculino, singular, sinônimo de bobo. Sei lá, deve ser algo assim. Abestalhado é bobo. Qualidade de quem é besta, de burro, de imbecil.… Read More via SAMBA DE TERNO

A cura pelo refrão (via malvadezas)

De todas essas medicinas alternativas, boto fé, essa pouca fé que me resta, que é mais otimismo do que crença, em uma especificamente: a cura pelo refrão.

(Ahhh, meus amigos… Quem empapou o travesseiro de lágrimas ao som de Crosby, Stills and Nash até pegar no sono, pra acordar num dia seguinte com um pouco mais de amor no coração, sabe do que tou falando.)

Refrão tem poder, meu caro. Aqueles quatro ou cinco versos que se repetem entre estrofes, que podem ser doces, ríspidos, fortes, delicados… Verdadeiras declarações de amor ou acenos de despedida. Expressando o que você sente, te fazendo colocar pra fora. Pra desistir do shuffle e apelar pro repeat. Porque não basta ouvir duas ou três vezes ao longo da música. É preciso ouvir mais. Até exorcizar. Reza brava, viu? E cura. E como cura!

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Conselhos de uma não- mãe (via malvadezas)

Seu filho um dia vai entrar na faculdade, ou sair de casa para morar sozinho, ou mudar de país, ou viajar com um amigo que tem pais que têm valores diferentes dos seus. E aí? Seu filho vai se apaixonar, namorar, trepar, encher a cara, fazer papelão, mandar SMS de madrugada para gente que não deve. Vai fazer eventuais conversões proibidas no trânsito, vai levar um multa injusta, vai sofrer com uma rejeição. Se tudo der certo.

Já sei: quem sou eu para me meter e dar conselhos a mães, sendo que eu não tenho filhos? Alguém que cohabita o planeta com seus pimpolhos, com vocês, e que tem uma mãe (incrível, por sinal). Podemos então evitar este argumento? … Read More via malvadezas

Flores de plástico (via malvadezas)

Pegue sua bússola, seu GPS, um calendário e algum instrumento antigo de medição do tempo de vida do universo. Agora sente-se de frente para o mundo e examine: em que ponto das história estamos? Vê aí pra gente… Alguns dizem que talvez o Natal de 2012 seja uma grande festa de despedida. Eu não acredito mas há quem, pasme, ache que é o fim. Nos últimos milhões de anos, a terra tem nos mostrado que FIM é um momento que não existe. Quer dizer… existe ali, naquela hora, mas todo fim é o começo de outra coisa, e vão-se os dinossauros e ficam os deuses do Egito, vão-se os Maias e ficam os argentinos e, assim o mundo acaba para uns e para outros sucessivamente até a gente cansar. A gente… porque para a Terra foi só uma puberdade, uma TPM, um dia chato, sei lá. … Read More via malvadezas

Insanidade virtual (via malvadezas)

Era domingo, dia mundial de cura da ressaca, e a pestana que tirava tinha como meta o fim da dor de cabeça, pequena, aquela que só atinge um lado, no caso o esquerdo. A TV funcionava como sonífero, mas o jogo da tarde estava tão interessante que vez ou outra os olhos teimavam em abrir para acompanhar as cenas em que o locutor se empolgava. Meio robótico, não reagiu no primeiro instante quando o telefone ao lado do travesseiro primeiro tremeu para então tocar o tom padrão da marca do celular. Puxou o aparelho para ver quem era. Acordou de vez com o nome no visor. … Read More via malvadezas

Fausto Wolff não morreu

Prá quem é fã do cara, como eu, lá vai uma lista de links com matérias sobre o lobo.

Fausto e os Fogos – Aldir Blanc
Fausto Wolff e Deus num réveillon da Atlântica – Fernando Soares Campos
Fausto Wolff. – Wallace Camargo
Algumas palavras – vários
MEU QUERIDO WOLFF – Anna Fortuna
O ‘JB’ resistiu às pressões – Paulo Caruso >> JB
“O jornalista pede desculpas e morre” – Márcio Pinheiro >> Zero Hora
FAUSTO WOLFF FOI EMBORA – Henrique Perazzi de Aquino
Memórias do Fausto – Luiz Chagas >> Revista Brasileiros
O defensor dos palestinos – Sérgio Caldieri >> Palestina livre!
Fausto, nos melhores autógrafos de Fabrício Carpinejar
Com se faz um Fausto Wolff – Marcelo Backes >> Zero Hora
O LOBO E A ESTRELA – Vanessa Anacleto >> Overmundo
Camarada Fausto Wolff, presente! – Secretariado Nacional do PCB
Fausto Wolff – Aluizio Amorim
Fausto Wolff manda lembranças – Márcia Denser >> Congresso em foco
TERMINAMOS MAL, FAUSTO WOLFF!!! – Luíz Horácio >> revista Aplauso
E Fausto Wolff se foi… – Vicente Portella
FAUSTO WOLFF: LEMBRANÇAS – Sára Wolffenbüttel Véras >> blog do Cacau Menezes
RIP Fausto Wolff – Leonardo Foletto >> Cenabeatnik
FAUSTO WOLFF: JORNALISMO E CORAGEM – Cunha e Silva Filho >> Entre-textos
Cada um se despede como consegue – Mario de Almeida >> Coletiva.net
O lobo eterno – Bárbara Lia >> blog Chapar as borboletas
JEBÃO FOI EMBORA – Ivan Schmidt >> Paraná Online
O mundo particular de Fausto Wolff – Ricardo Schott >> JB
UMA HOMENAGEM A FAUSTO WOLFF – Ricardo Soares >> TV Brasil
Leila Richers relembra Fausto Wolff >> Jornal do Brasil
Grande perda para o jornalismo – Marcelo Henrique Marques de Souza >> blog Impostura
O SÁBADO PÓS-FAUSTO WOLFF – Gustavo Grisa >> Capital Gaúcha
É MUITA DESPEDIDA DOLOROSA – Ziraldo >> Jornal do Brasil
E o Velho Lobo se entregou – Eduardo Nunes >> Blog Periscópio
Um comunista maravilhoso – Do blog Agente 65
Memórias de Fausto Wolff – Paulo Polzonoff Jr.
FAUSTO WOLFF PEDE DESCULPAS E SAI – Licurgo >> blog Celeuma
FAUSTO WOLFF, UMA REFERÊNCIA POLÍTICA – Sindicato dos Bancários
RÉQUIEM A UM PANFLETÁRIO – Antônio Siqueira >> Via Fanzine
[ Fausto Wolff ] – do blog Sem_cohmando
MENOS UM DOS GRANDES – Por Bruno Dorigatti
É COM PROFUNDO PESAR QUE RETIRO ISTO DO BAÚ – Tavinho Paes
FAUSTO WOLFF: O LOBO QUE NÃO SE RENDE
REBELDE COM CAUSA – por Araken Vaz Galvão
FAUSTO WOLFF – por Olsen Jr.
O LOBO, O LOBO – Drops da Fal
Morreu FAUSTO WOLFF – Carlos André Moreira
A CONSPIRAÇÃO DOS DEMOLIDORES – por Pedro Ayres
MEU TIO FAUSTO MORREU – Pimenta
FAUSTO WOLFF FOI FIEL A SEUS IDEAIS ATÉ O FIM – por Miguel Arcanjo Prado
DESENHO DO ADEUS – por Paulo Caruso
FOI PRA ISSO QUE VOCÊS FIZERAM A REVOLUÇÃO? – por Mário Augusto Jakobskind
O que dizem alguns amigos