Aécio Neves, grande estadista mineiro, cumprindo o seu papel de líder democrático mundial, liderou uma tropa de senadores brasileiros na árdua missão de levar o resplandecer libertário para aquele país bolivariano, perdido em meio a uma brutal ditadura evolulochavista, cujo presidente ainda não está maduro para conviver com os ditames norteadores dos homens bons desta parte sul da América.
A despeito de amadores como Jimmy Carter, coube a Aécio ir em loco comprovar a situação anormal que vive aquela republiqueta proto-caribenha, pois sua credibilidade e respeito mundial é incomparável e sua palavra de condenação libertaria milhões de homens de bem das masmorras comunistas venezuelanas, quiçá possibilitando a volta daquele que foi sem dever ter ido, Pedro Carmona, este sim verdadeiro democrata a quem caberia o comando da PDVSA e do país que já nos deu Carlos Andrés Pérez.
Assim, o vergonhoso bloqueio bolchevista armado por soldados da guarda-vermelha caraquenha contra a audaz comitiva aecista, que em vão tentava libertar os presos políticos, foi inaceitável e um verdadeiro ato contra os direitos humanos dos homens de bem e que deverá servir de base para uma marcha maior de todos aqueles que não aceitam o comunismo contra Caracas, depondo de uma vez seu governo marxista em nome da liberdade.
No óleo sobre tela, Simon Bolívar, o “George Washington da América do Sul”
Por Rafaela Marques
Há uma frase de Edmund Burke bastante lembrada pelo seu teor profético. Ela diz o seguinte: “those who don’t know their history are doomed to repeat it”, ou, em bom português, “aqueles que não conhecem sua história estão condenados a repeti-la”.
Em 1954, dez anos antes do Golpe Militar, o suicídio de Vargas arrebatou as massas. Na carta-testamento célebre, em que ele dizia que despedia-se da vida para entrar para a História, ele também dizia claramente que estava sendo derrotado por “grupos nacionais e internacionais” que “desprezavam sua luta pelo povo e, principalmente, pelos mais humildes”. A comoção gerada pelos fatos levou o povo a se colocar contra todo e qualquer grupo político, jornal ou instituição que havia se oposto a Vargas. Isso arrefeceu o poder dos que já planejavam o golpe. Mas nos dez anos seguintes, tempos de acirramento da Guerra Fria, o temor crescente do EUA de que o Brasil se tornasse um país socialista, seguindo Cuba, e levando consigo toda a América Latina, deu espaço pra todo tipo de paranóia.
Durante dez anos um golpe foi gestado. Dez anos. Neste espaço de tempo, o Brasil teve sete presidentes e muita confusão: deposição, impeachment, parlamentarismo, tudo o que podia ajudar a desestabilizar um pouco mais a ordem institucional.
Em 64, defendendo reformas de base, João Goulart teve coragem de fazer um comício dizendo ao povo que havia uma oposição que trabalhava para atrapalhar. Defendeu reforma agrária, bancária, fiscal, urbana e eleitoral – e o direito ao voto dos analfabetos. Os conservadores se sentiram frontalmente atingidos. Como resposta, a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” levou meio milhão de pessoas às ruas em 19 de março para bradar contra a “ameaça comunista”. Nas escolas, as aulas terminavam mais cedo para que os alunos orassem à Nossa Senhora Aparecida, terminando com o singelo pedido: “padroeira do Brasil, livrai-nos do comunismo, amém”.
Mas a história, essa sim, Senhora absoluta de todas as verdades, já provou que não havia ali o menor risco de que João Goulart transformasse o Brasil num país socialista. Com formação política de centro-esquerda, Jango queria radicalizar a democracia. Nenhum documento que comprove o proeminente alinhamento à União Soviética foi jamais encontrado.
Do lado contrário, são fartos os registros que comprovam que o Golpe Militar que aconteceu em 1964 foi planejado dentro da Casa Branca e discutido abertamente por John Kennedy e o então embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon. E até uma frota naval, a Operação Condor, foi despachada para o litoral brasileiro para dar suporte aos militares golpistas.
Seguiram-se 21 anos de barbaridades. Suspensão do direito ao voto, fechamento do Congresso, torturas, desaparecimentos, assassinatos, estupros, cassação de direitos políticos. O Estado converteu-se em artífice do terror. As organizações de esquerda – fossem elas socialistas ou não – caíram na clandestinidade e partiram-para a luta armada não por opção, mas por falta dela. Não era dada a chance de diálogo entre contrários.
Hoje presidenta democraticamente eleita, Dilma Rousseff nunca foi bandida. Bandido era o Estado, razão de toda opressão e de todo o mal. Ela era criminosa diante de um Estado que tinha leis arbitrárias e se travestia em democrático, porque operava dentro de um sistema artificializado para revestir a si mesmo de plenos poderes. Logo, o Estado era autor do crime.
Hoje, acho curioso ver articulistas de jornais, formadores de opinião e até juristas falarem em “bolivarianismo”. Ao contrário dos ignóbeis que repetem isso ad nauseam no Facebook, essa gente sabe muito bem que não há, nos governos do PT, movimento algum para que nos tornemos um país socialista. Essas pessoas, porém, não estão à vontade com a ideia de democracia. Radicalizá-la, ou seja, estendê-la a quem não tem terra, não tem fundos de investimentos, não tem direitos civis garantidos, e solapar aos poucos os privilégios de uma classe que sempre dominou as demais, lhes soa “socialista” demais.
Todas as vezes que um medo difuso de golpe foi usado para deslegitimar o processo democrático, as consequências foram fatais para a própria democracia. Isso não apenas no Brasil, basta olhar o Mapa Múndi! Slavoj Žižek cantou a bola em “O ano em que sonhamos perigosamente”, de 2011, quando começaram a eclodir revoltas populares em todo o mundo. Piketty também explica.
Toda essa convulsão social fantasiosa que estamos vivendo é parte da capitalização das manifestações de 2013 pelos filhotes da ditadura. A pauta do MPL, no ano passado, foi sequestrada por todo tipo de proto-fascista. Os conservadores, que faziam parte de uma direita desmantelada, enxergaram ali a oportunidade de sair do armário. Gente saudosa do Golpe militar sempre existiu, gente incomodada com a ampliação de direitos civis dos gays, dos pobres e dos negros sempre esteve entre a gente. Não surpreende que hoje as igrejas evangélicas assumam o papel que outrora foi da Igreja Católica que ensinava o pedido à Nossa Senhora Aparecida. Mas isso não tem qualquer perigo de ser lido como afronta à democracia, afinal, somos o país da desmemória! Basta ver como a Argentina mete o dedo na ferida e vai em busca de punir os responsáveis e reconstruir as verdades de seu período sombrio. Só muito recentemente, Dilma Rousseff, a presidenta ex-guerrilheira, teve a iniciativa de instituir a Comissão Nacional da Verdade, o primeiro esforço do Estado em bater de frente com a vergonhosa Lei de Anistia.
Os fascistas sempre estiveram entre nós, mas os efeitos do Golpe de 64 foram tão agressivos e tão terríveis que até bem pouco tempo atrás era feio assumir-se “de direita”. Mas Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino tem desempenhado bem o papel de arautos do medo. A cultura do medo, essa que é a face mais carrancuda dos nossos tempos, é também a cultura da burrice. De quem usa “bolivarianismo” no sentido de aproximação com Evo Morales e não com Simon Bolívar, a gente não pode exigir muito.
Mas você, que fica aí sendo ridículo dizendo que o Brasil é a nova Cuba, saiba: o figurino de marionete pode até lhe cair bem, mas Burke estava certo. Para a ruína de todos nós. E.T. Bilu manda lembranças, e diz pra não esquecerem do recado. Busquem conhecimento.