1.
Se depois de um tempo com os sentidos
afastados do que a eles se fez hábito mostrar,
expomos olhos e ouvidos e pele e nariz e boca
aos estímulos que eram os do costume,
não acontece de tudo no entorno,
parecer outro, ou novo, acontece, contudo,
de se constatar, imediatamente,
um tanto de novidade e diferença
recobrindo ou descobrindo
as coisas, as pessoas, os ares…
Um pouco do que a distância efetua na visão
nos faz ver mudança até onde não há,
desconhecer o que é conhecido,
o que não é de todo ruim, ou triste;
é para se pensar… Geralmente,
apenas quando desgrudamos
os olhos da coisa observada
é que podemos reparar na mudança.
Pudéssemos acompanhar
o grande rol de minúsculas transformações
que acabam por tirar a borboleta da lagarta,
como podemos acompanhar
em diversos e incontáveis casos
o cada passo do andar de uma a outra forma,
talvez achássemos que uma era a outra coisa,
percebendo, portanto, nas duas, a mesma coisa,
adivinhando, na borboleta, a lagarta,
e no íntimo da lagarta, a borboleta.
Vendo, contudo, ora a lagarta, ora a borboleta,
é mais fácil considerar que são dois entes,
e se a consideração não desponta,
é mais fácil que se enseje a sensação
da diferença, mas não das sutilezas
amontoando-se entre um e outro,
plim
: isso é aquilo?