Por Daniel Bovolento
Tá ali e não tem como negar. A gente anda procurando alguns bons motivos pra olhar pro lado mais vezes – e se esquecer de quem acompanha a gente. O som sai mais alto da garganta e a voracidade com que as palavras saem já dita uma desordem. A gente não tenta mais remediar a coisa toda. É pra ferir mesmo. Pra culpar o outro e dizer que era pra gente estar aqui abraçado ao invés de sofrer essa revolução inteira na vida.
Tá aqui e a gente já não sabe mais por quem se apaixonou. Eu já não tenho mais vontade de lutar por isso e você não admite que sente a mesma preguiça ao levantar do sofá pra se arrumar. A companhia se tornou obrigação. Não tem mais prazer e a gente vive nessa monomania de dar um beijo por etiqueta. De dar as mãos por costume. De apagar as luzes do abajur pra dormir. O nosso “boa noite” ficou tão seco que parece mecanizado. Arrancaram o que a gente ainda tinha de afeto.