Ela diz que não quer – me quer por perto – na real. Tem essa coisa tímida de baixar os olhos e revelar o mundo quando fecha o sorriso. Não tá bem, dá pra ver de longe. Ela faz represa com as pálpebras, pra não deixar sair nada. Os lábios são pequenos e só Deus sabe como o contorno tracejado deles pode ser pintado de um vinho que ela sabe escolher. Não me diz o que tá acontecendo, e eu insisto. Corre as mãos pela cama tentando tatear alguma coisa que nunca esteve ao seu alcance. O peito tá pesado e a etiqueta do vestido incomoda. Dá pra ver que a alergia ainda não passou quando ela espirra ligeiramente enquanto disfarça o que sente. Ela tem disso de guardar pra sentir sozinha, e não se aguentar. Eu queria mesmo é que ela pulasse na minha frente e tirasse tudo de vez – a roupa e as barreiras. Pra ser só minha. Ela tem disso de medir demais as coisas. Eu sou um buraco negro, se a gente parar pra pensar. E ela tem medo. Medo de medir. Medo de pedir. De tentar dessa vez, e cair pra dentro de mim de vez. Se perder. Se encontrar alguma coisa que gostar e decidir ficar. A testa franzida não engana o receio. Eu não vou embora, morena. Dá pra confiar dessa vez, e das outras.